Governo analisa projeto para regular greves no serviço público
Anúncio foi feito em audência por representante do Ministério do Trabalho. No encontro, sindicatos protestaram contra texto de Aloysio Nunes, que rebateu as críticas por meio de nota
O Secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), Manoel Messias Melo, anunciou ontem que o governo estuda a
elaboração de uma minuta de projeto para regulamentar o direito de
greve dos servidores públicos.
De acordo com ele, a ideia é promover, nos próximos dias, uma reunião
entre MTE, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e
Secretaria-Geral da Presidência para construir uma alternativa que leve
em conta a visão das centrais sindicais e dos servidores.
O anúncio foi feito em audiência pública na Comissão de Direitos
Humanos e Legislação Participativa (CDH) destinada a debater o direito
de greve no Brasil. Durante o encontro, sindicalistas e representantes
de servidores criticaram o projeto (PLS 710/11) de Aloysio Nunes
Ferreira (PSDB-SP) que disciplina o exercício do direito de greve no
setor público, previsto no inciso VII do artigo 37 da Constituição, mas
até hoje não regulamentado.
— Não há por parte do governo, neste momento, uma minuta. Há a
intenção de reunir esses três ministérios para retomar o debate,
partindo da busca de um consenso interno do governo e do diálogo com as
centrais — disse Melo.
Para o secretário, é importante que a falta de consenso entre os
ministérios do Trabalho e do Planejamento não impeça o avanço do debate
sobre o tema no Executivo. Além disso, opinou, a ausência de posição
clara negociada entre governo e centrais sindicais não deve ser motivo
para que prosperem projetos restritivos do direito de greve.
Pontos polêmicos
Segundo Melo, a elaboração de um projeto sobre o assunto esbarra em
pontos polêmicos, como a definição, para os efeitos do direito de greve,
dos chamados serviços ou atividades essenciais — aqueles que
representam ameaça concreta à vida dos cidadãos caso não sejam
executados.
— Há uma resistência dos sindicatos e mesmo da iniciativa privada [de
elaborar] essa lista de serviços essenciais — explicou o secretário.
Sindicalistas criticam propostas de Aloysio
Na audiência da CDH, sindicalistas criticaram o projeto de Aloysio
Nunes sobre greve no serviço público por entenderem que o texto
restringe a ação dos servidores.
Para Paulo Barela, da Central Sindical e Popular (CSP–Conlutas), a
proposta de Aloysio visa “amordaçar esse direito e restringi-lo a ponto
de que não haja greves entre os servidores”.
Já Luiz Henrique Schuch, do Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior (Andes–SN), disse que projetos como o do
senador contêm “um discurso simpático à sociedade, mas que revelam uma
questão de classe e podem levar a um retrocesso social”.
Álvaro Sólon de França, presidente da Associação Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip), além de
protestar contra o projeto de Aloysio, argumentou que “não adianta
regulamentar o direito de greve dos servidores sem que haja uma política
salarial”.
O senador, que não participou da reunião, divulgou nota afirmando que
o gabinete recebeu o convite para participar da audiência somente na
noite de quinta-feira, quando ele já não estava em Brasília. Ele afirmou
que, da forma como foi organizado, o debate ficou “restrito ao meio
sindical e a entidades de servidores públicos”.
Aloysio disse ainda ter tido notícias de insultos que os
representantes dos servidores lhe dirigiram e que, diante disso,
qualquer diálogo seria “absolutamente inútil”. Para ele, “audiências
públicas como essa são pura perda de tempo”.
Em resposta, o presidente da CDH, Paulo Paim (PT-RS), declarou que
tem “o maior respeito por Aloysio Nunes” e promoverá nova audiência
sobre o assunto, para a qual o senador será novamente convidado.
— Vou convidá-lo pessoalmente para a próxima reunião — disse Paim, que tem dois projetos sobre o tema (PLSs 83/07 e 84/07).
O senador gaúcho criticou o que chamou de tentativa de votação
apressada do texto de Aloysio e contou que pediu que a proposta tramite
também na CDH e na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Originalmente, a
matéria passaria apenas pela Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ).
Paim lembrou que os projetos de sua autoria, anteriores ao de Aloysio, já poderiam ter sido aprovados.
Acrescentou que “não se pode, da noite para o dia, tirar um projeto da cartola e querer aprová-lo agora”.
Fonte: Jornal do Senado
Gilv@n Vi@n@
Nenhum comentário:
Postar um comentário