Manifestação em Brasília, convocada pelo pastor Silas Malafaia, reuniu milhares que criticaram o aborto e a proposta que torna crime a homofobia
Em meio a acalorado discurso durante protesto em Brasília nesta quarta-feira (5), o pastor da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo Silas Malafaia perguntou à plateia: “O que dois homens e duas mulheres produzem?”. Eufórico em meio a multidão, estimada em 40 mil pessoas pela Polícia Militar, o aposentado Alonzo Mirandola respondeu: “Safadeza! Sem-vergonhice!”
Em protesto contra o projeto que criminaliza a homofobia, pastor batista Valdir Contaifer, e sua mulher, Morgana, pedem por 'liberdade' |
O aposentado viajou 22 horas em ônibus fretado para
participar da manifestação pela família em frente ao Congresso Nacional
nesta quarta-feira (5). Ele contou que de Vitória, onde mora, saíram
cerca de 30 ônibus lotados de fiéis para “defender” a família contra o
que considera “obra do diabo”.
Nessa obra, segundo Alonzo, estão os projetos
de lei que reconhecem o “casamento de dois machos e duas mulheres”. “O
diabo chegou aqui em Brasília e implantou o reino dele. Querem tirar o
valor da família. Como eles, os gays, não têm as famílias deles, querem
tirar a nossa”, protestou. “O que alguns políticos e a imprensa querem é
empurrar na nossa garganta a ideia de que dois homens e duas mulheres
formam uma família e isso nós não aceitamos”.
A organização da manifestação chegou a
anunciar 100 mil participantes. A “manifestação pacífica” foi convocada
por Malafaia, “em defesa da liberdade de expressão, liberdade religiosa,
da família tradicional e da vida”. O objetivo era marcar posição contra
o casamento gay, o aborto e o Projeto de Lei 122, que criminaliza a
homofobia.
Malafaia, o grande anfitrião do evento argumentava
contrário ao casamento gay. “Vamos arrumar uma ilha deserta e mandar
dois gays para lá. Quero ver se depois que passarem os anos haverá raça
humana”, disse o pastor em meio a mais de 50 políticos e pastores.
Em alguns momentos, a manifestação se parecia
mais com um comício. O senador Magno Malta (PR-ES) chegou a provocar o
público dizendo que forças contrárias aos evangélicos queriam impedir a
eleição de representantes religiosos nas próximas eleições. “Não querem
deixar a gente votar”, disse o senador. A plateia respondeu em coro: “A
gente vota, a gente vota”.
Em silêncio, a família formada pelo pastor batista Valdir
Contaifer, sua mulher, Morgana, e a filha Sarah, de 17 anos, empunhavam
um cartaz em defesa da “liberdade de se proclamar o que se crê”. Para
Morgana a proposta que criminaliza a homofobia, em discussão no
Congresso, é desnecessária.
“O respeito tem que existir em qualquer
situação”. Ela argumentou que a igreja deve ter o direito de condenar a
“prática do homossexualismo”, mas não acredita que esse discurso seja
capaz de gerar violência contra gays. “Nós temos que amar os gays. O que
a gente prega é o respeito”, declarou. “Nenhuma liberdade que gere
violência pode ser considerada liberdade”, argumentou.
Quanto aos políticos, Morgana é mais cética.
“A gente veio aqui pelo que eles falam em relação à família. Mas achar
que eles são exemplo de ética é bem diferente”, declarou. “Viemos comer o
peixe e jogar fora as espinhas”, argumentou Morgana.
Seu marido repetiu o principal argumento
utilizado pelos evangélicos para justificar que tem sentido o racismo
ser considerado crime no Brasil e a homofobia não. “Eu sou negro, mas eu
não escolhi ser negro. Já o homossexual escolheu essa prática”.
Já o casal de vigilantes Lissandra Silva e Jean Carlos
Almeida fez questão de demonstrar sua união ao posarem para fotos em
frente a uma bandeira improvisada com a inscrição “família tradicional”.
“Somos vigilantes, vigilantes da família”, declarou Lissandra que se
disse contrária à união civil entre pessoas do mesmo sexo.
“O que nos trouxe aqui é que a gente acredita
na família. O que mais temo é pelos meus filhos. Eles não podem viver
sem os valores da família”, disse a vigilante que faz parte da Igreja
Evangélica Petencostal Missionária Ebenezer, de Sobradinho II, na
periferia de Brasília.
Gilv@n Vi@n@
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