A inexistência de um projeto para a educação aliado aos baixos investimentos ao longo dos últimos anos e a ingerência dos diretores são alguns dos fatores apontados pela secretária estadual de Educação, Betânia Ramalho, para explicar o mau desempenho das escolas públicas do Rio Grande do Norte no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "A escola pública ainda não conseguiu definir seu projeto de educação e não há uma continuidade nos investimentos nesse setor. Tudo isso reflete no resultado da prova. Vai demorar um pouco para que os números do Enem melhorem no nosso estado", afirmou Betânia durante entrevista coletiva concedida ontem à tarde, na sede da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC).
No ranking divulgado segunda-feira passada, a escola estadual potiguar melhor classificada aparece na 2.399ª colocação. A secretaria alega que a informação não pode ser analisada sem levar em conta algumas variáveis. "É a mesma prova para todo o país. Não podemos analisar friamente. O investimento feito na região Sul do país, por exemplo, é muito maior do que é feito no Nordeste. Quanto mais investimentos na educação, melhor será o desempenho no exame. Infelizmente o MEC [Ministério da Educação] quer igualar todos, mas sabemos que a realidade socioeconômica é diferenciada em cada região", explicou.
Apesar dos números desfavoráveis, a secretária acredita que o RN "vem crescendo no Enem". A gestora leva em consideração que, em 2007, a participação de alunos no exame foi de 58.860 inscritos. No ano passado, esse quantitativo subiu para 92.454.
Betânia Ramalho acredita que os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apresentam a "radiografia" mais fiel da realidade do ensino brasileiro, porém, ressalta que o Enem é importante pois força os gestores a saírem da zona de conforto em busca de soluções para o problema. "O Enem reforça a estrutura do ensino médio e faz com que as escolas reflitam sobre o que se está fazendo de errado para não se obter resultados melhores", pondera.
Até o fim do ano, a SEEC dispõe de um orçamento na ordem de R$ 60 milhões para custeio e investimento. A secretária não sabe de quanto será o repasse no próximo ano, mas observa que não é possível apresentar resultados plausíveis em apenas nove meses de administração. "Encontrei um órgão completamente desequilibrado. Estamos trabalhando para sermos especialistas em educação e passar essas experiência para todos os gestores das escolas", coloca.
A falta de uma boa gestão dentro das unidades de ensino é um dos entraves, segundo Betânia, para se avançar na melhoria da qualidade de ensino e, por consequência, melhorar o resultado no Enem. "Não adianta termos investimentos se não há uma gerência adequada. O gestor faz a diferença", diz. Nesse sentido, a professora afirma que uma de suas prioridades é colocar em prática a Lei de Responsabilidade Administrativa, que está em tramitação no Senado Federal. "Com essa lei, o gestor pode ser cobrado e responderá pelos seus erros. A melhoria passa por uma gestão responsável. Os melhores gestores, inclusive, podem ser premiados".
Outro desafio para gestores e professores é a diversificação do currículo acadêmico. Segundo a titular da SEEC, os alunos estão desmotivados, entre outros fatores, pela falta de atrativos curriculares. "O Brasil ainda peca por não fornecer um currículo diversificado. Não temos uma escola atrativa. É preciso reestruturar o método de ensino introduzindo novas tecnologias, por exemplo".
Bate-papo: Betânia Ramalho » secretária de Educação do RN
Por que temos uma disparidade tão grande entre as notas das escolas privadas e públicas?
A escola pública ainda é muito pobre. Não temos também o foco que as escolas privadas. Além disso, é importante ressaltar que o aluno da rede pública, via de regra, vêm de uma estrutura familiar que não tem a cultura de cobrar o filho pelo aprendizado.
Mas como explicar a posição do IFRN , que ficou entre as dez melhores?
Os IFs têm investimentos do Governo Federal, a gestão é diferenciada. O IFRN, por exemplo, conseguiu chegar ao topo de qualidade porque tem investimento, estrutura organizada e política focada. A gestão é fundamental.
Quais problemas são decorrentes da má gestão nas escolas?
Olhe, para você ter uma ideia, temos na secretaria um número impressionante de pedidos de consertos pequenos nos prédios. Isso não é demanda para a secretaria. O diretor poderia resolver sem problemas.
Mudar somente a estrutura das escolas fará com que os números do Enem melhorem?
Não. A escola precisa se preocupar com a formação do aluno tendo em vista o que se pede na prova do Enem. A sociedade também precisa cobrar mais dos gestores.
A senhora acha que o resultado do Enem não representa a realidade?
A prova permite analisar o que se tem feito pela educação no país, Mas o aluno da Amazonas não é o mesmo do Rio Grande do Sul. Os investimentos socioeconômicos são bem diferentes.
Presidenta do Inep critica listas do Enem
Brasília - A presidenta do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Malvina Tuttman, criticou o uso das notas do Enem para montar listas das melhores e piores escolas do país. Para ela, o ranking não é o critério mais adequado para avaliar o desempenho das escolas, dos alunos e professores.
Este ano, o Inep mudou o formato de divulgação dos resultados e passou a levar em consideração o percentual de estudantes de cada escola que participaram do Enem. A ideia é evitar comparações entre as unidades de ensino, principalmente entre escolas privadas e públicas. A maioria dos veículos de comunicação noticiou o melhor desempenho das particulares em relação às públicas.
"A elaboração de rankings e a utilização de adjetivos para qualificar as escolas não demonstram o devido reconhecimento ao empenho de milhões de estudantes, profissionais da educação, parentes e demais setores da sociedade na busca de uma escola de qualidade para todos", disse Malvina, ao ler uma nota do instituto sobre a classificação das escolas. Ela participou hoje (15) de um debate sobre as avaliações externas na educação, em um congresso internacional promovido pelo movimento Todos pela Educação. "Não gosto do ranking porque acaba fortalecendo algo que não é verdade", completou.
A maioria dos especialistas presentes ao encontro também se posicionou contra o ranking das escolas. Porém, alertaram que o formato de divulgação das notas não é didático, é de difícil compreensão para imprensa, professores, coordenadores pedagógicos e secretarias estaduais de ensino, o que estimula a elaboração das listas dos melhores e piores.
"A imprensa faz ranking porque não demos outra coisa para ela. A gente está produzindo número que tem sido pouco interpretado", disse José Francisco Soares, do grupo de avaliação de medidas educacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Uma opinião que foi rebatida pela presidenta do Inep. Malvina Tuttman disse que as notas podem ser analisadas por pesquisadores de qualquer organismo da sociedade civil. "Todos nós estamos habituados a que o outro faça [a pesquisa]. Os dados estão aí. Onde estão nossas universidades para trabalhar junto [conosco] esses dados? Onde estão nossos pesquisadores para trabalhar com o Inep?", provocou.
Por: Tribuna do Norte. Publicação: 16 de Setembro de 2011
Roberto Lucena - repórter
Roberto Lucena - repórter
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