Médico com letra difícil de entender é algo que a maioria das pessoas conhece desde criança. Atribuições em excesso, pressa, grande número de pacientes a atender, costume, hábito podem até ser justificativas para uma má caligrafia, mas quando se trata de saúde não pode haver dúvidas, incertezas e equívocos. Ingerir um medicamento errado devido a não compreensão do que estava escrito na receita pode gerar sérios riscos.
Receitas ilegíveis, escritas à mão com caligrafia ruim, podem gerar dúvidas em farmacêuticos e vendedores, provocando troca de nomes de medicamentos e consequentes efeitos indesejáveis |
Apesar de haver legislação específica regulamentando a prescrição de receitas médicas, os abusos com a má caligrafia continuam. O Código de Ética Médica, em seu artigo 39, diz ser vedado ao médico "receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como assinar em branco folhas e receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos médicos."
O não cumprimento dessa determinação, com possíveis danos à saúde do paciente, pode implicar em punições e multas. De acordo com Jeancarlo Fernandes, presidente do Conselho de Medicina do Estado do Rio Grande do Norte (Cremern), qualquer pessoa que se sentir prejudicado por uma receita ilegível pode denunciar o profissional que a emitiu sem os devidos cuidados de clareza. O caso será investigado e medidas serão tomadas pela entidade.
Apesar de vários médicos ainda insistirem nos garranchos, há os que facilitam a vida do paciente digitando e imprimindo o receituário - afinal a tecnologia está aí para ser usada.
Para o presidente do Cremern, essa tradição, esse charme às avessas, da má caligrafia de grande parte dos médicos pode ter origem ainda na faculdade, quando se tem um conteúdo "gigantesco" a ser repassado e os alunos costumam copiar tudo no caderno, de forma apressada. "Com isso, eles não conseguem fazer uma letra perfeita e acabam transportando essa prática para a vida profissional.
Em alguns estados, a Vigilância Sanitária, responsável pela fiscalização dos médicos que atendem pelo Sistema Único de Saúde, tem multado médicos por descumprir a legislação. No Acre, a multa prevista pela falha é de até R$10 mil. Em Londrina, Paraná, o órgão fiscalizador multou três médicos em R$2 mil, cada, pela prescrição de medicamentos e tratamentos em receitas ilegíveis. O Distrito Federal também possui sistema semelhante.
Mas escrever receitas com caligrafia ruim não é algo praticado apenas no Brasil. O Instituto de Medicina da Academia Nacional das Ciências realizou um estudo que revela ser a má caligrafia responsável pela morte de sete mil pessoas a cada ano nos Estados Unidos.
Se caligrafia do mÉdico não é boa, o correto é digitar e imprimir receita
Como a farmacopeia é bastante ampla e variada, possuindo inclusive muitos nomes semelhantes e fáceis de serem confundidos, ou o médico tem uma boa caligrafia ou então digita a receita. A avaliação é do doutor em Ciências da Saúde, Jeancarlo Fernandes, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado Rio Grande do Norte (Cremern), ao avaliar o artigo nº 11 do Novo Código de Ética Médica, aprovado em abril de 2010.
"Se o médico não tem uma boa caligrafia, tem de lançar mão da digitação. Caso contrário os pacientes podem sofrer danos", alerta Jeancarlo Fernandes, informando ainda que, caso sinta-se prejudicado por ter comprado ou ingerido um medicamento errado devido à má caligrafia na receita, o paciente pode denunciar o médico ao Cremern. "É um tipo de comunicação que não pode haver equívoco."
Dúvidas e equívocos gerados por uma receita ilegível, com danos para o paciente, podem resultar em consequências para os médicos. O presidente do Cremern esclarece que, havendo uma denúncia formal, é aberta uma sindicância - espécie de inquérito para apuração dos fatos e de culpa. Caso o médico seja considerado realmente culpado, é aberto um Processo Ético Profissional.
"No Rio Grande do Norte nunca houve isso. Não sei se há algo em tramitação. Mas condenação, não", afirma Jeancarlo Fernandes. "É imprescindível prescrever um fármaco de forma legível."
A recomendação do Cremern, de acordo com o seu titular, é que o médico escreva a receita sempre de forma legível ou digitada, além de assinar e colocar o carimbo do Conselho Regional.
NAS FARMÁCIAS
Na maioria das farmácias, a recomendação é não vender o medicamento ao cliente caso a receita não esteja completamente legível ou digitada. De acordo com a farmacêutica Milena Dantas, 27 anos, sempre chegam prescrições com a caligrafia ruim. Nesse caso, é solicitado ao cliente retornar ao médico para retificações. "Tentamos decifrar, mas só não vendemos quando realmente não entendemos. Muitas vezes, o paciente liga da farmácia mesmo para o médico", comenta Milena. Segundo ela, são poucas as receitas digitadas.
Já de acordo com a farmacêutica Shirley Adressa Freire, 28, não é frequente chegar receitas ilegíveis na farmácia onde trabalha. Lá também vale a recomendação de não vender nada em caso de dúvida e, sim, procurar o médico. "Não aconselhamos procurar outra farmácia, pois eles podem vender o medicamento errado. E isso é um risco!"
Dermatologista digita receitas há dez anos
Foi a partir de um curso de informática, realizado há dez anos, que o dermatologista Maurício Lisboa Nobre percebeu a utilidade do computador para o seu trabalho em consultório, principalmente para prescrever receitas legíveis e claras. Para ele, a principal vantagem é a grande segurança em evitar troca dos medicamentos prescritos, ou ainda evitar que o paciente use-os erroneamente por não ter entendido a letra do médico.
Maurício Lisboa acredita que, desse modo, a determinação do Novo Código de Ética Médica, além de trazer uma enorme segurança para o tratamento correto das doenças, traz grandes vantagens para o profissional médico.
"Como dermatologista, uso muito a prescrição de fórmulas de manipulação, que muitas vezes contêm cinco ou mais componentes em um só medicamento, em concentrações individualizadas para cada caso", comenta Maurício. "Dessa forma, se um desses componentes for compreendido erradamente pelo farmacêutico ou se for usado em concentrações erradas, podemos ter sérios problemas com a fórmula, inclusive com efeitos contrários aos desejados."
Além da segurança, outra facilidade destacada pelo médico é a praticidade em salvar as fórmulas e copiá-las para a receita sempre que decidir usá-las, ajustando apenas a concentração de algum componente.
"Outra vantagem é a facilidade de, após fazer a receita, poder copiá-la e colá-la para o prontuário eletrônico, evitando ter que escrever tudo novamente. No meu consultório, é frequente ouvir elogios dos pacientes por medicá-los dessa forma", diz o dermatologista. Geralmente, as observações elogiosas são acompanhadas de depoimentos sobre alguma experiência pessoal desagradável ou desastrosa em consequência de uma receita recebida de algum colega.
O não cumprimento dessa determinação, com possíveis danos à saúde do paciente, pode implicar em punições e multas. De acordo com Jeancarlo Fernandes, presidente do Conselho de Medicina do Estado do Rio Grande do Norte (Cremern), qualquer pessoa que se sentir prejudicado por uma receita ilegível pode denunciar o profissional que a emitiu sem os devidos cuidados de clareza. O caso será investigado e medidas serão tomadas pela entidade.
Apesar de vários médicos ainda insistirem nos garranchos, há os que facilitam a vida do paciente digitando e imprimindo o receituário - afinal a tecnologia está aí para ser usada.
Para o presidente do Cremern, essa tradição, esse charme às avessas, da má caligrafia de grande parte dos médicos pode ter origem ainda na faculdade, quando se tem um conteúdo "gigantesco" a ser repassado e os alunos costumam copiar tudo no caderno, de forma apressada. "Com isso, eles não conseguem fazer uma letra perfeita e acabam transportando essa prática para a vida profissional.
Em alguns estados, a Vigilância Sanitária, responsável pela fiscalização dos médicos que atendem pelo Sistema Único de Saúde, tem multado médicos por descumprir a legislação. No Acre, a multa prevista pela falha é de até R$10 mil. Em Londrina, Paraná, o órgão fiscalizador multou três médicos em R$2 mil, cada, pela prescrição de medicamentos e tratamentos em receitas ilegíveis. O Distrito Federal também possui sistema semelhante.
Mas escrever receitas com caligrafia ruim não é algo praticado apenas no Brasil. O Instituto de Medicina da Academia Nacional das Ciências realizou um estudo que revela ser a má caligrafia responsável pela morte de sete mil pessoas a cada ano nos Estados Unidos.
Se caligrafia do mÉdico não é boa, o correto é digitar e imprimir receita
Como a farmacopeia é bastante ampla e variada, possuindo inclusive muitos nomes semelhantes e fáceis de serem confundidos, ou o médico tem uma boa caligrafia ou então digita a receita. A avaliação é do doutor em Ciências da Saúde, Jeancarlo Fernandes, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado Rio Grande do Norte (Cremern), ao avaliar o artigo nº 11 do Novo Código de Ética Médica, aprovado em abril de 2010.
"Se o médico não tem uma boa caligrafia, tem de lançar mão da digitação. Caso contrário os pacientes podem sofrer danos", alerta Jeancarlo Fernandes, informando ainda que, caso sinta-se prejudicado por ter comprado ou ingerido um medicamento errado devido à má caligrafia na receita, o paciente pode denunciar o médico ao Cremern. "É um tipo de comunicação que não pode haver equívoco."
Dúvidas e equívocos gerados por uma receita ilegível, com danos para o paciente, podem resultar em consequências para os médicos. O presidente do Cremern esclarece que, havendo uma denúncia formal, é aberta uma sindicância - espécie de inquérito para apuração dos fatos e de culpa. Caso o médico seja considerado realmente culpado, é aberto um Processo Ético Profissional.
"No Rio Grande do Norte nunca houve isso. Não sei se há algo em tramitação. Mas condenação, não", afirma Jeancarlo Fernandes. "É imprescindível prescrever um fármaco de forma legível."
A recomendação do Cremern, de acordo com o seu titular, é que o médico escreva a receita sempre de forma legível ou digitada, além de assinar e colocar o carimbo do Conselho Regional.
NAS FARMÁCIAS
Na maioria das farmácias, a recomendação é não vender o medicamento ao cliente caso a receita não esteja completamente legível ou digitada. De acordo com a farmacêutica Milena Dantas, 27 anos, sempre chegam prescrições com a caligrafia ruim. Nesse caso, é solicitado ao cliente retornar ao médico para retificações. "Tentamos decifrar, mas só não vendemos quando realmente não entendemos. Muitas vezes, o paciente liga da farmácia mesmo para o médico", comenta Milena. Segundo ela, são poucas as receitas digitadas.
Já de acordo com a farmacêutica Shirley Adressa Freire, 28, não é frequente chegar receitas ilegíveis na farmácia onde trabalha. Lá também vale a recomendação de não vender nada em caso de dúvida e, sim, procurar o médico. "Não aconselhamos procurar outra farmácia, pois eles podem vender o medicamento errado. E isso é um risco!"
Dermatologista digita receitas há dez anos
Foi a partir de um curso de informática, realizado há dez anos, que o dermatologista Maurício Lisboa Nobre percebeu a utilidade do computador para o seu trabalho em consultório, principalmente para prescrever receitas legíveis e claras. Para ele, a principal vantagem é a grande segurança em evitar troca dos medicamentos prescritos, ou ainda evitar que o paciente use-os erroneamente por não ter entendido a letra do médico.
Maurício Lisboa acredita que, desse modo, a determinação do Novo Código de Ética Médica, além de trazer uma enorme segurança para o tratamento correto das doenças, traz grandes vantagens para o profissional médico.
"Como dermatologista, uso muito a prescrição de fórmulas de manipulação, que muitas vezes contêm cinco ou mais componentes em um só medicamento, em concentrações individualizadas para cada caso", comenta Maurício. "Dessa forma, se um desses componentes for compreendido erradamente pelo farmacêutico ou se for usado em concentrações erradas, podemos ter sérios problemas com a fórmula, inclusive com efeitos contrários aos desejados."
Além da segurança, outra facilidade destacada pelo médico é a praticidade em salvar as fórmulas e copiá-las para a receita sempre que decidir usá-las, ajustando apenas a concentração de algum componente.
"Outra vantagem é a facilidade de, após fazer a receita, poder copiá-la e colá-la para o prontuário eletrônico, evitando ter que escrever tudo novamente. No meu consultório, é frequente ouvir elogios dos pacientes por medicá-los dessa forma", diz o dermatologista. Geralmente, as observações elogiosas são acompanhadas de depoimentos sobre alguma experiência pessoal desagradável ou desastrosa em consequência de uma receita recebida de algum colega.
Por Isaac Ribeiro - Repórter / TN
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