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17 fevereiro, 2012

Música alta e batuques podem causar danos à audição

Sensação de abafamento e zumbido podem ser sinal de lesão.
Veja dicas de especialistas para evitar prejuízos ao sistema auditivo.

Mestre Adamastor, da Acadêmicos do Tucuruvi, diz que já perdeu parte da audição (Foto: Raul Zito/G1)
Abafamento nos ouvidos, zumbido e sensação de surdez por minutos e até horas. Esses são alguns dos sintomas comuns a quem festeja o carnaval ao som do batuque das baterias e música alta. Mas o que nem todos sabem é que a exposição prolongada ao barulho excessivo pode causar prejuízos irreversíveis à audição se alguns cuidados não forem tomados.
No carnaval, de acordo com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, medições de anos anteriores chegaram a apontar uma intensidade de som de 120 decibéis, seja na folia pelas ruas, ao som de trios elétricos, ou no sambódromo. O ouvido humano, no entanto, suporta apenas uma intensidade de até 85 decibéis. A Associação estima que cerca de 20% dos brasileiros sofram com algum tipo de perda auditiva.
“O ouvido humano suporta, em média, sons de até 85 decibéis por cerca de oito horas diárias. Se o som atinge 110 decibéis, a tolerância cai para apenas meia hora. E no caso de 120 decibéis, seriam apenas 15 minutos de tolerância para evitar traumas e danos”, explica Marcelo Hueb, presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial.
A exposição prolongada ao barulho, como é o caso de trabalhadores de fábricas e indústrias que não protegem os ouvidos, pode levar à perda definitiva da audição. O mesmo pode acontecer, segundo Hueb, em caso de exposição a som muito alto, mesmo que por um curto período. “No carnaval, os foliões costumam ficar muito perto das fontes de som e expostos durante horas, sem descanso para os ouvidos. Isso pode causar sérios problemas”, diz.
Há 39 anos à frente da bateria da Vai-Vai, o Mestre Tadeu afirma que faz acompanhamento médico para evitar problemas auditivos, mas garante que nunca teve nenhum sintoma. “Ensaiamos cerca de quatro horas por dia e não costumo usar protetores, mas nunca tive problemas. Em todos esses anos tivemos apenas um caso de uma pessoa que começou a perder a audição, mas ainda assim eu prefiro que a bateria não use o protetor porque pode atrapalhar o andamento do ritmo durante o desfile”, afirma.
A rainha Priscila Bonifácio, que desfila junto à bateria da Unidos de Vila Maria, acredita que a adrenalina dos ensaios e do desfile “anestesia” o corpo para qualquer incômodo. “A gente sabe que o barulho não faz bem, mas nunca senti nada. Sou rainha de bateria há três anos e se puder vou sambar no meio dos ritmistas. É maravilhoso. Uma emoção e uma adrenalina que superam qualquer coisa”, conta a musa, de 30 anos.
Apesar da resistência de Mestre Tadeu e Priscila, Hueb afirma que as pessoas que se expõem prolongadamente ao barulho não têm o ouvido “treinado”. “Alguém que fica diretamente exposto ao ruído só não sente os efeitos se for extremamente resistente ou porque ainda não deu tempo de aparecerem os zumbidos causados pela permanência crônica no barulho.”
O otorrinolaringologista Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, do Hospital israelita Albert Einstein, e professor da Escola Paulista de Medicina, explica que os sintomas de lesões auditivas podem demorar a aparecer. “Estudos apontam que o trauma acústico pode levar até dez anos para atingir o seu máximo. Um operário submetido a um ruído acima do permitido pode levar dez anos para sentir os sintomas. Esse é o aspecto mais traiçoeiro dos problemas auditivos”, explica.
No caso do Mestre Adamastor, foram necessários 17 anos para sentir os efeitos da exposição ao som alto. Ele comanda a bateria da Acadêmicos do Tucuruvi e procura usar protetores para evitar danos ainda maiores. “Eu já perdi parte da minha audição em virtude de todos esses anos à frente da bateria. Hoje procuro usar protetores sempre que possível, principalmente às vésperas do carnaval, quando os ensaios são mais frequentes. Os agudos da bateria são muito prejudiciais. É preciso cuidado”, conta Mestre Adamastor, que recomenda o uso de protetores por seus ritmistas e demais integrantes da escola.
O técnico de som da Acadêmicos do Tucuruvi, Yves Garcia, confirma a intensidade preocupante do som nos ensaios e desfiles de carnaval. “Na quadra, durante os ensaios, chegamos a registrar um som de cerca de 120 decibéis, porque o ambiente é fechado. No sambódromo, por ser aberto, fica um pouco mais ameno, em torno de 100 decibéis, mas o cuidado ainda assim é imprescindível”, diz.
Com perceber os excessos
Um bom indicador de que o ambiente não está adequado para a saúde dos ouvidos, segundo especialistas, é o nosso tom de voz ao conversar. “É automático que, em locais muito barulhentos, nós aumentemos o volume da voz durante uma conversa. Isso já indica que o ambiente não está adequado”, afirma Albernaz.
Em caso de exposição intensa ao som alto, vale destacar que se o zumbido ou sensação de abafamento durarem por mais de três dias, a recomendação é procurar um especialista para verificar se houve alguma lesão.
Dicas para a folia
O uso de protetores auriculares de silicone moldável é bastante recomendado para os foliões que querem evitar problemas auditivos sérios neste carnaval, porém o acessório pode atrapalhar a comunicação e, por isso, especialistas consideram que o índice de utilização do protetor seguirá muito baixo durante os festejos.
“Seria muito otimista achar que as pessoas irão usar o protetor, então uma boa dica é fazer intervalos de 10 minutos longe do barulho, a cada 30 minutos. Assim o ouvido tem tempo para se recuperar”, orienta Albernaz. Outra dica importante é ficar a uma distância de pelo menos 10 metros da fonte sonora.
Fonte: Nathália Duarte  
Do G1, em São Paulo
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