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12 novembro, 2011

Berlusconi renuncia e põe fim à era marcada por escândalos

Após 17 anos de reinado político, premiê italiano deixa cargo para abrir espaço para governo que livre país de crise econômica

O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, renunciou neste sábado depois que a Câmara Baixa aprovou medidas de austeridade reivindicadas pela União Europeia (UE), pondo fim a 17 anos de uma era política e abrindo espaço para uma transição cujo objetivo é tirar a Itália da crise econômica. Berlusconi apresentou sua renúncia às 21h50 locais (18h50 de Brasília) ao presidente Giorgio Napolitano. Com 75 anos, Berlusconi foi recebido sob vaias ao chegar ao Palácio Quirinale, sede da presidência.
Primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, deixa Palácio Quirinale depois de entregar sua renúncia ao presidente Giorgio Napolitano em Roma
Na terça-feira, o premiê italiano prometeu deixar o poder assim que o pacote de austeridade fosse aprovado pelo Parlamento. A decisão pela renúncia foi tomada após o Orçamento ter sido aprovado por 308 votos, oito a menos do que a maioria absoluta de 316, em uma votação que contou com 321 abstenções. A perda da maioria tornou insustentável a permanência de Berlusconi no poder.
Berlusconi chegou ao palácio em meio a um comboio de carros oficiais e foi recebido por uma multidão que gritava "palhaço" e erguia cartazes que diziam "Bye, bye, Berlusconi". Pouco antes, o magnata havia dito a um grupo de jornalistas que ficou sentido pelas vaias que recebeu após a votação do Parlamento neste sábado. "Foi algo que me doeu profundamente", afirmou.
Antes de sua chegada, um coral de 'Aleluia', de Handel, apresentado por dezenas de cantores e músicos clássicos, postou-se em frente do Palácio de Quirinale enquanto italianos e turistas se reuniam em Roma à espera do fim do reinado marcado por escândalos de Berlusconi. 
O respeitado ex-comissário europeu Mario Monti continua o favorito para tentar pôr fim aos problemas de dívida do país como líder de um governo de transição, mas os aliados de Berlusconi continuam divididos em apoiá-lo para o cargo. Sua oposição não prejudicará os planos de Napolitano de pedir a Monti que forme um governo interino após a renúncia de Berlusconi, mas provavelmente atrapalhará os trabalhos de um futuro governo. 
Espera-se que Napolitano mantenha consultas no domingo com todas as forças políticas da Itália antes de nomear oficialmente Monti.
Mais cedo neste sábado, o presidente italiano apelou aos parlamentares para pôr o bem do país à frente de interesses individuais e de curto prazo - em um pedido indireto para membros do partido de Berlusconi e da aliada Liga Norte de trabalhar com o novo governo. "Todas as forças políticas devem agir com o senso de responsabilidade", disse.
Nesse sentido, Berlusconi se reuniu por duas horas neste sábado com seu possível sucessor. Mas o ministro do Interior italiano, Roberto Maroni, da Liga Norte, deixou claro que o partido seria de oposição a um governo Monti, rejeitando fazer parte de uma coalizão de base ampla que ele eventualmente tente formar.
A renúncia de Berlusconi era esperada depois de o pacote ter sido aprovado na Câmara por 308 votos a favor, 26 contra e duas abstenções, um dia depois de ter passado no Senado. A lei aprovada pelo Parlamento contém medidas duras para economizar 59,8 bilhões de euros e equilibrar o orçamento do país até 2014.
Berlusconi ficou de pé enquanto os parlamentares o aplaudiram na Câmara depois da votação. Mas, do lado de fora, centenas de curiosos se apertavam para testemunhar as horas finais de seu governo. "Vergonha!" e "Fora!", gritou a multidão.
Entre os manifestantes era possível visualizar cartazes que traziam mensagens como: "Graças, Giorgio", dedicado ao presidente, e "Finalmente!", em relação à renúncia de Berlusconi. Gritos de "Demissões, demissões" também eram direcionados à classe política em geral. 
Escândalos
Após anunciar no início da semana que abandonaria o poder, Berlusconi limitou suas aparições públicas, descartou ser candidato em futuras eleições e disse que se sentia "livre". Contudo, o chamado Il Cavaliere - que dominou a vida política de seu país durante quase duas décadas - disse: "Talvez eu dê uma mão em campanhas eleitorais, que é algo que sempre fiz bem."
Berlusconi continua sendo deputado de sua formação de direita, Povo da Liberdade (PdL), em um Parlamento com mandato até 2013, e tem imunidade parlamentar, o que leva muitos a duvidarem que ele abandonará a política.
O líder italiano se defende de três acusações na justiça, sendo o mais famoso deles o Rubygate, no qual é acusado de ter pago a uma menor marroquina, conhecida como Ruby, por serviços sexuais. Nesse mesmo caso, Berlusconi também é acusado de abuso de poder por intervir ante a polícia de Milão para que liberasse Ruby após ela ter sido detida por roubo em maio de 2010.
Já no caso Mills, Berlusconi é suspeito de ter pago US$ 600 mil a seu ex-advogado britânico David Mills, nos anos 90, para que fizesse um falso testemunho. Por último, no processo Mediaset, Berlusconi foi acusado de ter aumentado artificialmente os preços dos direitos de divulgação de filmes para constituir um "caixa dois" no exterior, reduzir seus lucros na Itália e pagar menos impostos.
De acordo com analistas, apesar da expectativa de sua continuidade na política, num primeiro momento ele deve optar por um exílio de luxo, com seu mentor, Bettino Craxi. Ex-primeiro-ministro socialista, Craxi mudou-se para a Tunísia em 1994, antes de ser condenado a 27 anos de prisão por corrupção.
Segundo a imprensa italiana, Berlusconi teria dito por telefone que pretendia deixar "esse país de merda que me dá vontade de vomitar". "Berlusconi também pode ir para Antígua para escapar dos problemas judiciais ou começar a reunir suas tropas para voltar", disse James Walston, professor da Universidade Americana de Roma.
Para o analista político Peter Gomez, autor de vários livros sobre Berlusconi, os parentes do magnata da Fininvest o obrigarão a seguir na política. "Sua família o pressiona muito. Talvez ele não tenha outra alternativa a não ser o escudo legal", disse Gomez. "Sua filha Marina, por exemplo, já disse claramente que não aceita ser nem um centavo menos rica ou poderosa", afirmou.
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*Com AP, AFP e EFE
Gilv@n Vi@n@

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