Em Efurt, papa garantiu que as autoridades da Igreja Católica têm interesse em esclarecer casos de abuso sexual
Papa participa de celebração em Etzelsbach, na Alemanha |
O papa Bento 16 reuniu-se nesta sexta-feira em Efurt, na Alemanha, com vítimas de religiosos pedófilos, após ter prestado uma homenagem ao reformador Martinho Lutero. "O Santo Padre, consternado e chocado com o sofrimento das vítimas de abusos, manifestou sua profunda simpatia e pesar por tudo o que elas e suas famílias passarem", assinalou a conferência episcopal alemã em um comunicado, após a reunião entre o papa e as vítimas alemãs.
De acordo com informações da BBC, o papa encontrou-se com cinco vítimas por meia hora, durante o segundo de quatro dias de visita à sua terra natal. Um porta-voz contou à publicação que Bento 16 conversou com duas mulheres e três homens que vieram de diferentes partes da Alemanha "em circunstâncias tranquilas".
Aos presentes, o papa assegurou que "as autoridades da Igreja têm um interesse especial em esclarecer todos os casos de abuso, e estão trabalhando na criação de medidas eficazes para proteger as crianças e os jovens", afirma o texto.
A Igreja Católica alemã se viu mergulhada em um escândalo no ano passado, quando centenas de pessoas denunciaram abusos sofridos entre os anos 1950 e 1980, época em que eram menores de idade. Até o momento 18 das 27 dioceses católicas da Alemanha receberam acusações. Em 2010, mais de 180 mil alemães deixaram a Igrea, por conta da reação do Vaticano em relação ao escândalo.
O arcebispo da Alemanha, Robert Zollitsch, admitiu que, quando a crise estourou, a instituição "falhou" na sua resposta. O papa realizou encontros semelhantes também nos Estados Unidos, Austrália, Malta e Reino Unido - países afetados por escândalos de abuso sexual.
Horas antes da reunião com as vítimas, o papa homenageou Martinho Lutero - ação simbólica para os protestantes de Erfurt, local onde foi concebida a Reforma -, mas sem fazer anúncios concretos envolvendo o ecumenismo. "O que não deixava Lutero em paz era a questão de Deus, que era a paixão profunda e a força de sua vida e de toda a sua trajetória", disse o papa no convento dos Agostinianos, no qual o pensador da Reforma viveu de 1505 a 1511, quando ainda era católico.
Bento 16 discursou durante uma reunião de meia hora com 20 representantes da Igreja Protestante alemã. "O pensamento de Lutero e toda a sua espiritualidade estavam totalmente centrados em Cristo", disse o pontífice, que tem Santo Agostinho como uma de suas principais referências, o que o aproxima de Lutero.
Em seguida, o papa concelebrou uma missa ecumênica na igreja medieval do convento onde Lutero foi ordenado padre em 1507. Diante de 300 personalidades, entre elas a chanceler alemã, Angela Merkel - filha de um pastor protestante -, e o presidente alemão, o católico Christian Wulff, Bento 16 convocou católicos e luteranos a valorizarem o que os une diante de perigos como a expansão das seitas evangelistas.
"Em um encontro ecumênico, deveríamos não apenas lamentar as divisões e separações, mas também agradecer a Deus por todos os elementos de união que ele conservou para nós", disse o papa. Após a cerimônia, o presidente do Conselho de Igrejas Protestantes da Alemanha, Nikolaus Schneider, elogiou a "reabilitação de Lutero" promovida por Bento 16, mas pediu avanços concretos no ecumenismo.
Desde que foi eleito, o papa enviou sinais contraditórios em matéria de ecumenismo, um tema que domina, uma vez que seu país natal tem tantos protestantes, principalmente luteranos, quanto católicos: 24,1 milhões, contra 24,6 milhões, respectivamente.
Pela manhã, o bispo de Roma pediu um diálogo maior entre o cristianismo e o islã. À tarde, 90 mil fiéis católicos receberam o Papa em torno do santuário mariano de Etzelsbach, na região de Eichsfeld, reduto do catolicismo nos tempos da Alemanha comunista.
Fonte: ultimosegundo.ig.com.br
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