Morre aos 58 anos Hugo Chávez,
presidente da Venezuela
De formação militar, líder ficou conhecido por retórica anti-Estados Unidos e polêmicas dentro e fora de casa
O presidente venezuelano, Hugo Chávez , morreu nesta terça-feira às 16h25 locais (18h55 em Brasília) aos 58 anos, anunciou o vice-presidente Nicolás Maduro em rede de televisão nacional. Vítima de câncer, o líder teve uma trajetória política marcada por polêmicas e rivalidades dentro e fora da Venezuela.
Chávez havia voltado a Caracas no dia 18 , após ter sido submetido em Cuba em 11 de dezembro a uma quarta cirurgia relativa a um câncer não especificado na região pélvica, que havia sidodiagnosticado em junho de 2011 .
Antes de viajar a Havana, Chávez nomeou o vice-presidente Maduro como potencial sucessor para liderar a sua revolução socialista caso ficasse incapacitado.
Chávez iniciou sua história política ao liderar uma tentativa frustrada de golpe de Estado em fevereiro de 1992, contra o governo do então presidente Carlos Andrés Pérez.
No golpe de 1992, Chávez e membros do Movimento Revolucionário Bolivariano protestavam contra medidas de austeridade econômica do governo de Pérez. Os confrontos deixaram 18 mortos e 60 feridos. A tentativa frustrada levou Chávez a ser detido por dois anos, quando foi libertado graças a uma anistia do novo presidente Rafael Caldera. Uma segunda tentativa de golpe contra o presidente, em novembro do mesmo ano, foi novamente reprimida.
Em 1997, relançou seu partido sob o nome de Movimento 5ª República, que mais tarde veio a se tornar Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Foi eleito presidente em 1998, em eleições que venceu com 56% dos votos, após uma campanha contra os partidos tradicionais e promessas de combate à pobreza e à corrupção.
Depois de tomar posse, em fevereiro de 1999, Chávez dissolveu o Congresso venezuelano e convocou uma Assembleia Nacional Constituinte. A nova Constituição, aprovada por referendo no mesmo ano, alterou o nome oficial do país para República Bolivariana da Venezuela, ampliou os poderes do Executivo, eliminou o Senado, permitiu maior intervenção do Estado na economia e reconheceu os direitos culturais e linguísticos das comunidades indígenas.
Além disso, convocou novas eleições para presidente em 2000, nas quais saiu vitorioso com 55% dos votos. Apoiado na chamada Lei Habilitante, ele conseguiu promulgar 49 decretos em um ano, sem necessitar de aprovação da Assembleia.
Em 2002, Chávez sofreu um dos golpes de Estado mais rápidos da história depois de a população venezuelana aderir a uma greve geral que durou dois dias e culminou em uma marcha com 15 mortos e 100 feridos. A greve foi convocada pela Confederação dos Trabalhadores da Venezuela (CTV), maior sindicato do país, e pela associação empresarial Fedecámaras, depois de Chávez substituir gestores da companhia estatal petrolífera PDVSA por pessoas de sua confiança.
Depois de a população ir às ruas para protestar, militares anunciaram a “renúncia” de Chávez e empossaram como presidente provisório Pedro Carmona, da Fedecámaras. Militares leais a Chávez organizaram um contragolpe e tomaram o Palácio de Miraflores, para o vice Diosdado Cabello assumir a liderança temporária do país, até Chávez ser libertado da prisão na ilha deLa Orchilae regressar a Caracas para retomar o poder.
‘Inimigo’ dos EUA
Na região, Chávez esteve amparado por líderes esquerdistas de retórica antiamericana. Como o caso dos presidentes Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua), além do ex-mandatário hondurenho Manuel Zelaya e dos cubanos Raúl e Fidel Castro. Chávez também era próximo do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva , com quem, para alguns analistas, disputava a liderança da América Latina.
Crítico costumaz do que chamava de “imperialismo” americano, Chávez acusava os EUA de estar por trás do golpe que tentou derrubá-lo em 2002. Na Assembleia Geral da ONU em 2006, chegou a chamar o então presidente americano, George W. Bush (2001-2009), de diabo. “O diabo esteve aqui ontem e ainda sinto o cheiro de enxofre”, disse em discurso um dia depois de Bush.
Com a chegada de Barack Obama à presidência americana, em 2009, o líder venezuelano deu sinais de uma nova relação entre Caracas e Washington. Na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, em abril de 2009, Chávez cumprimentou Obama, a quem presenteou com o livro “As Veias Abertas da América Latina”, clássico do uruguaio Eduardo Galeano que questiona o imperialismo americano e europeu na região.
Na prática, no entanto, as relações permaneceram tensas e marcadas por imbróglios diplomáticos. Em dezembro de 2010, o Departamento de Estado americano revogou o visto do embaixador venezuelano em Washington, Bernardo Álvarez Herrera. A decisão foi tomada após Chávez ter se recusado a aceitar o indicado americano para o cargo de embaixador em Caracas, Larry Palmer.
Apesar das diferenças, a Venezuela ainda é estrategicamente importante para os EUA na região. Dada suas vastas reservas de petróleo - o país membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) possui cerca de 297 bilhões de barris - é um dos principais fornecedores dos EUA.
Formação militar
Filho de professores, Hugo Rafael Chávez Frías nasceu em 28 de julho de 1954, em Sabatena, no Estado de Barinas, e foi criado pela avó paterna. Amante de esportes, em particular o beisebol, ingressou aos 17 anos na Academia Militar da Venezuela, onde se graduou em 1975 em ciências e artes militares no ramo de engenharia. Na carreira militar, chegou ao posto de tenente-coronel.
Chávez casou-se duas vezes. A primeira com Nancy Colmenares, com que teve Rosa Virginia, María Gabriela e Hugo Rafael, e a segunda com María Isabel Rodríguez, com quem teve Rosinés e esteve até 2003. Manteve também uma relação amorosa durante cerca de dez anos com a historiadora Herma Marksman enquanto era casado com a primeira esposa.
Dentro de casa
Dentro de casa, o projeto político de Chávez marcou a história da Venezuela dividindo o país entre chavistas e não chavistas.
Seu governo buscou nacionalizar empresas, petrolíferas estrangeiras, além de diversas indústrias - como as de cimento e metalurgia. Além disso, implementou uma série de programas sociais de educação e saúde, conhecidos como “missões” , mas não conseguiu reverter a pobreza crônica e o desemprego do país.
Visto por seus partidários como um líder preocupado com as camadas mais pobres, Chávez era criticado por opositores que o consideravam cada vez mais autocrático e o culpavam de censurar a imprensa. Em novembro de 2010, o dono da opositora TV Globovisión, Guillermo Zuloaga, chegou a pedir asilo político aos EUA depois de a Justiça emitir uma ordem de prisão contra ele por usura e de Chávez tê-lo acusado de formar parte de um grupo para matá-lo.
Em 2005, a oposição boicotou as eleições parlamentares na Venezuela, acusando as autoridades eleitorais de serem parciais. Um ano mais tarde, Chávez conquistou um novo mandato de seis anos com 63% dos votos.
Apesar de ter perdido um referendo constitucional sobre reeleição presidencial indefinida, em 2007, Chávez se saiu vitorioso em uma nova consulta popular, na qual os venezuelanos decidiram por mandatos ilimitados para oficiais eleitos em 2009. Em setembro de 2010, seu partido ganhou maioria nas eleições para Assembleia Nacional frente aos 40% conquistados pela oposição.
Além de trocas de embates com a oposição, o líder venezuelano polemizou também com diferentes setores dentro da Venezuela. Chávez costumava descrever executivos do setor petroleiro vivendo em “chalés de luxo, onde fazem orgias e bebem uísque” e acusava líderes da Igreja de negligenciar os pobres, ficando ao lado da oposição e defendendo os ricos.
De estilo personalista, Chávez se dirigia à nação todos os domingo em seu programa de TV semanal Alo, Presidente, no qual falava sobre suas ideias políticas e entrevistava convidados, cantores e dançarinos.
O líder foi reeleito em 2012 , derrotando o rival opositor Henrique Capriles, atual governador de Miranda. Ele costumava dizer que sua intenção era permanecer no poder até 2019, pois precisava de mais tempo para implementar a revolução socialista na Venezuela.
Fonte: BBC
Gilv@n Vi@n@
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