Lavagem de dinheiro comandada por traficante de dentro da prisão foi desarticulado ontem
A chefe de Polícia Civil Martha Rocha e o delegado Flávio Porto informaram detalhes do esquema criminoso |
Cerca de R$ 62 milhões foram movimentados apenas no ano passado no esquema de lavagem de dinheiro do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, desarticulado nesta quinta-feira (1) pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. De acordo com a instituição, cinco empresas eram usadas no esquema, sendo duas fictícias. Elas tinham sedes nas cidades de Foz do Iguaçu (PR), Belo Horizonte (MG) e Campo Grande (MS).
As investigações tiveram início há aproximadamente um ano, durante a ocupação do Complexo do Alemão. Na ocasião, foram encontrados na comunidade 14 retalhos de papel com manuscritos de Beira-Mar. Vindos de presídios federais, os bilhetes continham orientações do traficante a comparsas no Rio sobre como proceder para tornar legais os lucros vindos do tráfico de drogas e armas.
Para comprovar que os manuscritos encontrados eram de Beira-Mar, os informes foram encaminhados para um exame grafotécnico. De acordo com a polícia, a caligrafia dos retalhos foi comparada com a letra do traficante presente em requerimentos feitos por ele na prisão, onde solicitava a troca de pessoas para visita na penitenciária.
"Como eram documentos oficiais, a comparação é 100% confiável. Identificamos que a letra era realmente de Beira-Mar”, disse a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha.
Funcionamento do esquema
O traficante Fernandinho Beira-Mar controlava da prisão o esquema de lavagem de dinheiro |
Para a polícia, o esquema de lavagem de dinheiro funcionava de uma maneira engenhosa. O primeiro passo era depositar o dinheiro arrecadado no Complexo do Alemão com a venda de drogas em contas bancárias das empresas envolvidas. Os depósitos eram feitos de duas formas para tentar despistar a polícia: através da internet e fisicamente, por meio de agências nos bairros da Penha, Bonsucesso, Inhaúma e Bonsucesso.
A quadrilha também utilizava uma prática conhecida como “Smurfing”. Valores grandes eram fracionados em menores e depositados de maneira sucessiva. Os integrantes do bando mesclavam ainda valores legais das empresas utilizadas no esquema com lucros oriundos do tráfico.
Na outra ponta, o dinheiro ilícito acabava sendo usado na compra de armas e drogas no exterior, como no Paraguai, formando uma espécie de “teia criminosa”. “Era uma verdadeira engenharia financeira. Pessoas jurídicas falsas eram criadas, misturadas com pessoas jurídicas existentes e havia a pulverização do dinheiro. Os integrantes da quadrilha possuíam conhecimento do sistema financeiro", avaliou o delegado Flávio Porto, coordenador do Núcleo de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (NUCC-LD), da Polícia Civil.
Números da operação
Para a operação desta quinta-feira, foram expedidos 20 mandados de prisão, sendo que dez suspeitos já estão detidos. Entre eles estão o próprio Beira-Mar e os traficantes conhecidos como Chapolin, Macarrão e Rolinha. Um dos mandados foi expedido no nome de Marcelinho Niterói, considerado braço-direito de Beira-Mar, mas ele morreu em uma operação policial ocorrido no início de novembro.
Dos outros dez mandados de prisão, dois foram expedidos para Minas Gerais, quatro para o Paraná e quatro para o Rio de Janeiro. Oito já foram presos, até o momento, sendo dois na capital fluminense.
A polícia identificou no total a participação de aproximadamente 110 pessoas no esquema de lavagem de dinheiro, incluindo moradores do Complexo do Alemão que realizavam depósitos. Mas só foram feitos os pedidos de prisão de membros da liderança. “Solicitamos a prisão daqueles que tinham controle do sistema”, informou Porto.
Aproximadamente 200 policiais participam da operação que contou com o apoio das polícias civis de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, locais onde a quadrilha possuía ramificações. Os presos irão responder pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Por conta da operação desta quinta-feira, as contas das empresas usadas no esquema criminoso foram bloqueadas. “A ação realizada teve foco no impacto financeiro às organizações criminosas”, informou Martha Rocha. “O dinheiro do esquema financiava a logística da inserção de drogas e armas no País. Era o dinheiro que comprava maconha no Paraguai, por exemplo. Só uma pequena parcela ia para benefício pessoal dos líderes”, completou Flávio Porto.
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Fonte: Anderson Dezan, iG Rio de Janeiro
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