Em 2014 e 2116 o Brasil sediará dois grandes eventos esportivos internacionais: Olimpíadas e Copa do Mundo de futebol.
Com o foco no capital e no quanto de dinheiro vai circular neste período, os preparativos para este evento exigem algumas políticas públicas prioritárias, em certas capitais, em parceria com o capital (inter)nacional e colocam o orçamento público brasileiro em função da realização deste espetáculo.
Algumas destas políticas são:
Desapropriação e desterritorialização de comunidades urbanas periféricas, cujo sentido histórico do enraizamento de suas vidas nas cidades, foi ocupar os terrenos baldios como tentativa de inserção no processo industrial que se abria nos anos 70´s e 80´s no Brasil.
Limpeza social com tolerância zero para a informalidade de trabalhadores que, não tendo outra ocupação formal, deverão, segundo os ideólogos burgueses, ser credenciados para vender qualquer mercadoria, com vistas à sua sobrevivência. Para isto, parte do recurso deverá ser utilizado para a ampliação/construção de presídios, espaços concretos que servirão de abrigo para migrantes e brasileiros (i)legais que firam, em suas estéticas e comportamentos, a ordem do progresso dos jogos.
Caça ao narcotráfico como o mal terrorista a ser combatido e sirva, ao mesmo tempo, de espelho para o mundo sobre o projeto de reurbanização em que as periferias, “limpas”, sirvam de turismo tropical, ecológico e humano, e sejam fotografadas como o retrato da dignidade da pobreza no Brasil.
Reconfiguração do sistema de logística de transporte urbano, para acomodar, na aparência, sujeitos de várias partes do mundo e do Brasil, com vistas a mostrar a expressiva qualidade de vida em que vivem milhões de brasileiros abrigados no interior da 7ª. Nação em PIB do mundo.
Boom propagandístico de cervejas e todos os demais bens de consumo complementares, em especial a imagem da mulher brasileira, que configurarão como aparência vital do gozo, próprios da luta pelo primeiro lugar no campeonato mundial das fantasias.
Estas prioridades juntas, para serem concretizadas, exigem calendários justos, reuniões, acertos prévios às conquistas econômicas futuras e (re) acomodações orçamentárias.
Tais execuções nos mostram o que os governos são capazes de produzir, como planos de metas, para cumprirem com seu objetivo de curto e médio prazo, aniquilando os problemas sociais, ecológicos, econômicos que se transformarem em barreiras ao êxito.
Segurança e comodidade. Eis o centro da ação comprometida entre agentes públicos e privados para ocultar o estado real de conflitos socioeconômicos vividos na histórica Pindorama, por milhões de brasileiros que vivem do sangue e suor da venda de sua força de trabalho.
A expectativa econômica dos realizadores desta fantasia concreta, é que o Brasil fature em um mês, parte expressiva do que arrecada em um ano com o turismo. Os gastos iniciais foram estimados em US$ 5 bilhões, mas já chegam, segundo o Governo Federal à casa dos 18 bilhões de dólares. Valor bem abaixo da estimativa privada que é de US$ 33 bilhões.
Algumas constatações importantes:
1. O Brasil figurará no livro dos recordes como a copa mais cara da história do futebol.
2. A capacidade do Estado de cumprir com suas metas em políticas públicas, quando define como prioritárias e necessárias para parte expressiva do povo brasileiro;
3. A função da democracia representativa no Brasil, com nula participação popular, tanto nos debates, quanto nas decisões coletivas sobre políticas prioritárias acerca do investimento dos recursos públicos;
4. A participação integral do povo brasileiro no mundo do trabalho, uma vez que somos os responsáveis por levantar o progresso proposto de forma urgente para a Nação. Pagamos com o trabalho, os impostos sobre o consumo e a renda e com o vazio que ficará após a orgia passar.
Mais uma orgia do capital que, utilizando-se do trabalho, se apropria dos recursos públicos que nos pertencem, como se fossem dele por direito. Mais um crime cometido contra o povo brasileiro, a partir da venda da fantasia organizada pelo jogo do capital contra o trabalho, através da paixão mundial pelo futebol.
Por Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ ES.
Gilv@n Vi@n@
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