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24 janeiro, 2012

O BRASIL NÃO É A CASA DE NOCA

Fifa pede que Natal apresse obras do estádio Arena das Dunas

Numa hora de crise econômica mundial, mais uma vez o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, vem ao Brasil “ditar” regras em relação a Copa do Mundo de 2014. Ele não faz recomendações, nem solicitações. Formula ameaças e impõe desgastes aos governos federal e estaduais. Sobre o estádio “Arena das dunas” em Natal, que a Fifa acompanha a sua construção minuto a minuto, em tempo real, gera inquietações e anuncia que não haveria problemas em retirar a nossa cidade da Copa. Sabe-se do esforço sobre-humano para construir esse estádio e que tudo está dentro do possível e do previsto. A Fifa não reconhece. A vítima futura pode não ser apenas Natal. O país terá que abrir o olho para não perder a sua soberania. A lei geral da Copa é discutida no Congresso. A Fifa quer isenção de impostos; determina a cobrança de ingresso integral; libera a venda de bebidas alcóolicas em locais com presença de menores; muda nomes de estádios, de parques, de ruas; cria um tribunal especial para julgar casos ligados à Copa 2014; exige uma zona de exclusão de dois quilômetros em torno dos estádios, onde só ela pode autorizar o que será comercializado; proteção de marcas e direitos de transmissão dos jogos e eventos. Pretendeu até que o Estatuto do Idoso - que entre outros direitos concede meia entrada em eventos esportivos e culturais para os maiores de 60 anos - não valesse para o período do Mundial. Tudo com a aplicação de recursos públicos estimados em mais de R$ 130 bilhões de reais, quase cinco vezes a mais do que o governo diz ao povo que irá gastar.
O maior risco está no “após Copa 2014”. Simon Kuper, colunista do Financial Times, escreveu que no dia da escolha da África do Sul para sediar a Copa do Mundo, em 2004, o bairro negro do Soweto, em Johanesburgo, gritou: "a grana está vindo!". O articulista concluiu: “esse argumento econômico é uma enganação”. No mesmo artigo, Kuper escreve que a “quantidade de turistas esperados é bem menor que a prometida e a Fifa não deixou nem os sul-africanos pobres venderem suas salsichas do lado de fora dos estádios. Que fique claro: uma copa não deixa o país mais rico”.
Na África do Sul, a previsão de gastos era de 3 bilhões de dólares. No final, ultrapassou 12 bilhões. A iniciativa privada nada colocou do seu próprio bolso. Reivindicou (e obteve) empréstimos a longo prazo, isenções de impostos e outros incentivos. Com pressões descabidas por mais vantagens, certas empresas - tidas como parceiras -, se aproveitaram do fato da FIFA se mostrar tensa com a demora da preparação do país e exigiram “reajustes” milionários nos contratos de construção civil. Será que esse filme irá se repetir no Brasil? Depois do mundial, a África do Sul continuou a pagar contas. Até hoje administra greves de trabalhadores por atrasos de salários, que não eram comuns antes. O professor em gestão de esporte, Aldo Azevedo lembrou que “os recursos utilizados para a realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro tiveram a previsão inicial de investimento triplicada”. Destacou a realização em 2004 da Eurocopa em Portugal, a maior causa do atual déficit financeiro e endividamento do país.
A Copa de 2014 é um fato consumado, que exigirá muita firmeza dos dirigentes para que a Fifa não acumule as funções de Presidente da República e legisladora. Se de um lado o nome do país está comprometido com o evento, a entidade internacional não terá opções de retirá-lo do Brasil. Até agora, assistimos a “babaquice” de meia dúzia de “papagaios de piratas”, se apresentando como os “pais da Copa”. De agora por diante, precisamos é de quem tenha competência e saiba o que diz, para mostrar à Fifa, que o Brasil não é uma “casa de noca”.
Por Ney Lopes - advogado
Gilv@n Vi@n@

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