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23 abril, 2015

A cultura é mesmo um “bico” para poucos

Diretor geral da FJA, Rodrigo Bico,
Diretor geral da FJA, Rodrigo Bico,
A Biblioteca Câmara Cascudo, da Fundação José Augusto, é citada no artigo de Elio Gaspari, “Uma fábula da modernidade”, publicado na Folha de S. Paulo em sua edição de ontem, quarta-feira. O mote do escrito é o descaso como a cultura no Brasil é tratada pelo poder público amigado com a mania da “modernidade”. Por exemplo: derruba um prédio antigo, de valor histórico, e em seu lugar, se constrói um “novo”, moderno, padrão Dubai. Ou quando menos se inventa intervenções em velhos casarões históricos, antigos palácios, para “adequá-lo” aos novos tempos. Logo no começo do artigo, Elio Gaspari escreveu:
“A modernidade do século XXI tem os velhos toques da arquitetura futurista, mais privataria e terceirizações. Somando-se a isso, cria-se uma boa página na internet, e tchan, o futuro chegou.”
Adiante, Gaspari mostra o exemplo do que acontece no Rio de Janeiro: a Biblioteca Parque, inaugurada em 2013. Foi construída num local onde existia um prédio do tempo de Dom Pedro II, que abrigava também uma biblioteca, depois remodelado por Darcy Ribeiro e, finalmente posto abaixo (o prédio) no governo Sergio Cabral: “O velho prédio foi demolido. No lugar, ergueu-se outro, moderno e lindo. (Com isso os empreiteiros e fornecedores faturaram pelo menos R$ 71 milhões). Com o milagre, a água viraria vinho. Virou vinagre”.
Um ano após a inauguração, o governo carioca reduziu o horário de atendimento da biblioteca. Funcionava das 10 às 20 horas, expediente emendado Agora, mais curto: das 12 às 18h30, de terça à sexta. Não abre mais nem nos sábados, nem nos domingos. A biblioteca está terceirizada.
Elio Gaspari vai contando:
– Construir ou reformar bibliotecas rende imediatos faturamentos e cerimônias. Mantê-las é outra história coisa que depende de recursos e servidores dedicados. Pezão (o governador do Rio de Janeiro) tropeçou nessa ponta dessa equação. Em outros casos, piores, caiu-se na primeira, na qual paga-se parte da obra e deixa-se a instituição à matroca.
– A Biblioteca Nacional de Brasília, construída em 2002 tornou-se uma excelente salão de leitura e centro de exposições, mas biblioteca nacional não é. A Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul está fechada para reformas há oito anos. A Câmara Cascudo, de Natal, e a Pública de Maceió estão em reformas, fechadas há quatro anos. A Biblioteca Municipal de Manaus, fechada há três anos, foi ocupada por moradores de rua e depredada em setembro do ano passado. Isso para não se falar do Museu do Ipiranga, fechado desde 2013, com reabertura prevista para 2022. De tempos em tempos a cripta onde deixaram D. Pedro I vira mictório.
Natal
Em Natal não apenas a Biblioteca Pública Câmara Cascudo está fechada. O Museu Café Filho, também. OMemorial Câmara Cascudo não é mais memorial. Todo seu acervo, incluindo a biblioteca do mestre, foi transferido para o Ludovicus, instituto privado, administrado pela família do historiador. O Museu de Arte Sacra da Igreja Santo Antônio, ninguém fala, ninguém viu, ninguém reza. Fala-se nas esquinas dos becos culturais desta pobre rica aldeia que a Fortaleza dos Reis Magos, o mais importante monumento do Estado, está fecha não fecha. O Teatro Alberto Maranhão também.
A cultura é mesmo “um bico” para poucos.
Por Woden Madruga (TN)
Gilv@n vi@n@

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