STF retoma recursos do mensalão após tensão entre ministros
Na quinta passada, Barbosa acusou Lewandowski de 'fazer chicana'.
Discussão começa com análise de recurso de Bispo Rodrigues (extinto PL).
Os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo
Lewandowski em sessão da semana passada (Foto: Fellipe Sampaio /SCO/STF) |
O Supremo Tribunal Federal
(STF) volta a se reunir nesta quarta-feira (21) para retomar o
julgamento dos recursos dos condenados no processo do mensalão. A sessão
dará continuidade ao caso do ex-deputado Bispo Rodrigues, cuja análise foi interrompida numa tensa discussão entre o presidente da Corte, ministro Joaquim Barbosa, e o vice-presidente, Ricardo Lewandowski.
Barbosa acusou o colega de "fazer chicana", que, no jargão jurídico, significa uma manobra para prejudicar o andamento da ação.
Apesar de Lewandowski ter pedido uma retratação, Barbosa deve manter a
posição de não pedir desculpas. Caso isso aconteça, Ricardo Lewandowski
pode pedir aos demais ministros apoio sobre o direito de manifestar o voto.
Ministro com mais tempo de Corte, Celso de Mello, conversou com Barbosa
por duas ocasiões após a discussão. Há expectativa de que ele fale em
plenário como forma de apaziguar os ânimos na Corte.
A sessão desta quarta será iniciada com a conclusão do caso de Bispo Rodrigues,
do extinto PL, réu cujo recurso gerou a discussão. Ele pedia para ser
punido com base na lei sobre corrupção que valeu até novembro de 2003 e
que previa pena menor para o crime.
Lewandowski entendeu que Rodrigues aceitou a vantagem indevida antes de
a lei mudar e que, portanto, a pena deveria ser reduzida. Barbosa
rejeitou a possibilidade, que pode ter influência no caso de seis réus, entre eles o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Após a conclusão da análise do caso de Bispo Rodrigues, serão
analisados na sessão desta quarta (21), pela ordem, os recursos de três
ex-dirigentes do Banco Rural ( Kátia Rabello, José Roberto Salgado e Vinícius Samarane), depois Marcos Valério e Delúbio Soares.
Na semana passada, o tribunal rejeitou recursos de sete condenados (Emerson Palmieri, Jacinto Lamas, Valdemar Costa Neto, José Borba, Romeu Queiroz, Roberto Jefferson e Simone Vasconcelos).
Próximos recursos
A ex-presidente do Banco Rural e ex-acionista do banco Kátia Rabellofoi
condenada por formação de quadrlha, lavagem de dinheiro, gestão
fraudulenta e evasão de divisas a 16 anos e 8 meses de prisão. Salgado
foi punido pelos mesmos crimes com a mesma pena.
Samarane foi condenado por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta a 8 anos e 9 meses de prisão.
Os três ex-dirigentes do Banco Rural pedem redução de penas ao Supremo
porque entendem que o tribunal aplicou punições excessivas considerando o
papel de cada um no suposto esquema.
Valério e Delúbio
Marcos Valério,
condenado como operador do mensalão e que obteve a maior pena entre os
condenados - mais de 40 anos -, apresentou recurso de 53 páginas. A
defesa alega que, assim como Roberto Jefferson, Valério também colaborou
com as investigações e deveria ter a pena reduzida. O recurso cita que
Marcos Valério chegou a entregar lista com os nomes dos beneficiados no
esquema.
O recurso de Delúbio traz a mesma alegação do recurso de Bispo Rodrigues e que gerou tensão no Supremo. Ele quer ser punido por corrupção com base em lei anterior à novembro de 2003, quando as penas para o crime eram mais baixas.
Argumentou que o acórdão (documento que resume as decisões tomadas no
julgamento) o indica duas datas diferentes para a morte do ex-presidente
do PTB José Carlos Matinez. Em um dos pontos diz que ele morreu em
outubro de 2003 e, em outro, em dezembro de 2003.
O recurso diz que a negociação entre o PTB e o PT de Delúbio ocorreu
imediatamente após a morte de Martinez, ainda em outubro e, portanto,
antes da mudança da lei sobre corrupção. Com isso, no entendimento da
defesa, a punição ao ex-tesoureiro do PT deveria ter sido mais branda.
"A contradição em torno de quando José Carlos Martinez faleceu é clara e
facilmente demonstrada, mas suas consequências são drásticas. [...] O
erro quanto à data de falecimento de José Carlos Martinez levou,
diretamente, ao erro quanto à data do acordo com o PTB de Roberto
Jefferson [ex-deputado, delator do mensalão]. E esse último engano
aumentou as penas aplicadas ao embargante", afirmou no recurso o
advogado do ex-tesoureiro, Arnaldo Malheiros.
Gilv@n Vi@n@
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